Personagens criativas: Em ascensão - Toshi Omagari
O tipógrafo japonês Toshi Omagari, 37 anos, gosta de utilizar as capacidades de investigação que aperfeiçoou na idade adulta para se tornar um especialista naquilo que adorava quando cresceu em Fukuoka, no Japão, nos anos 90: jogos de arcada. Atualmente, está mais entusiasmado com os tipos de letra dos jogos de arcada do que com os seus enredos. Recentemente, ficou tão fascinado com o aspeto das fontes utilizadas pela Nintendo, Super Nintendo e outras, que escreveuTipografia de jogos de arcada: The Art of Pixel Type, um livro lançado pouco antes da pandemia.
Desde então, deixou o seu trabalho de design de longa data para a Monotype para se tornar um freelancer em Londres, não muito longe de onde obteve o seu mestrado no programa de tipografia da Universidade de Reading. Atualmente, está a desenvolver aquilo a que chama "tipos de letra totalmente originais", mas não entra em pormenores, dizendo sobre o trabalho em desenvolvimento: "Talvez não esteja numa fase em que se possa necessariamente articular o que se está a fazer".
Até à data, a biblioteca de tipos de letra de Toshi inclui a Codelia (uma referência a "Hamlet" de Shakespeare) e a Comic Code. Numa recente entrevista ao Zoom com a Monotype, falámos de ambos os tipos de letra, bem como da sua paixão por desafios e tipos diversos e casuais. A nossa conversa foi condensada por questões de espaço.
Minhas fontes: O texto de apresentação dos vossos tipos de letra mostra o vosso sentido de humor. Neste caso, estou a pensar no seu texto de exemplo para a Codelia, "Python, and be silent", bem como para a Comic Code, "Coding with pyjamas on". Alguma vez pensaste em tornar-te escritor?
Toshi Omagari: Não, não gosto de escrever! Acabei por escrever um livro sobre tipos de letra, mas isso demorou MUITO tempo. Ao criar um texto de apresentação engraçado para o Codelia e o Comic Code, quis dizer: "Ei, estes tipos de letra não são realmente sérios".
MF: O que é que quer dizer com "não é sério"?
TO: Quero sempre criar um tipo de letra que desafie algo no design de tipos, como a ideia "séria" de que a MS Comic Sans é má. Quero que as pessoas aceitem e apreciem a Comic Sans - e desafiem as noções tradicionais de tipografia."
TO: Foi concebido para ser utilizado num ecrã de baixa resolução, com menos de 1.000 pixéis, pelo que é mais adequado para ambientes escolares e domésticos. Mas como está no Windows, toda a gente o utiliza, apesar de o Microsoft Office ser um programa mais para adultos. Mas não acho que haja um mau tipo de letra, há apenas má tipografia, ou más utilizações de tipos de letra.
MF: Acho que ainda não percebi bem porque é que a Comic Sans é "má".
PARA: Para alguns, pode parecer demasiado casual, demasiado infantil. O espaçamento dos caracteres é muito irregular - direito, não direito; redondo, não redondo. Se pensarmos na Comic Sans como formas manuscritas, o escritor não tem qualquer controlo; como uma criança a aprender a escrever.
MF: Há mais alguma coisa que gostaria de desafiar?
PARA: Bem, como desenho muitas escritas de que não sou nativo (sou japonês, mas não desenho ideografias japonesas), mas sim coisas como latim, tibetano, mongol, árabe, estou sempre interessado em promover o design multi-cultura e multi-escrita. Quando os designers falam de tipografia, às vezes faz-me rir, porque a maioria quer dizer tipografia latina (empregando o alfabeto de 26 letras que começa com ABC), mas saltam o prefixo "latino". Quando ouço coisas assim, digo: "Está a falar de latim! Devias dizer latim!"
PARA: Não, a não ser que desenhem noutras escritas. A tipografia existe basicamente em todas as culturas. Mas se participarmos em conferências ou apresentações e as pessoas disserem: "É assim que devemos abordar a tipografia", isso pode não se aplicar à tipografia do Médio Oriente ou à tipografia japonesa. Penso que devemos ser mais específicos.
MF: O que o levou a decidir não desenhar em ideogramas japoneses?
TO: Se abrirmos uma fonte japonesa, chinesa ou coreana, o número de caracteres é de dezenas de milhares. Quando se trata de um tipo de letra latino, esse número situa-se facilmente nas centenas. Pode assumir que desenhar em CJK (chinês, japonês e coreano) demora provavelmente pelo menos 10 ou 100 vezes mais tempo.
TO: É mais como se cada palavra no dicionário existisse como um carácter que representa um conceito ou uma coisa, em vez de sons de palavras. Um emoji de cara sorridente, por exemplo, é um ideograma.
PARA: Dos meus próprios tipos de letra? Depende da altura em que pergunta. Se me perguntar amanhã, talvez receba uma resposta diferente.
PARA: Codelia, por causa daquilo em que acredito sobre programação. Codelia é um tipo de letra muito suave e casual, feito para programação. O código está no nome. E o código - filas de caracteres semelhantes a uma máquina - parece assustador para muitas pessoas. Eu quero mudar isso.
MF: O que é que espera fazer no futuro?
PARA: Criar um tipo de letra que apoie a minha vida? Não sei. Fazer um grande sucesso? Porque não!
Veja as fontes daFundição de tipo tabular.
Esperamos que tenha gostado desta entrevista. Veja as entrevistas anteriores depersonagens criativas em ascensãoFontes de Toshi Omagari